Translate

terça-feira, 31 de outubro de 2017

36% dos alimentos no Brasil têm agrotóxicos acima do limite ou proibidos

36% dos alimentos no Brasil têm agrotóxicos acima do limite ou proibidos    BAM
               Testes feitos em 12 alimentos comuns da dieta do brasileiro, entre eles o arroz e o feijão, mostraram que 36% apresentavam algum tipo de irregularidade em relação a agrotóxicos. Ou apresentavam pesticidas totalmente proibidos no Brasil para qualquer alimento, ou continham níveis de produtos proibidos para aquela cultura específica, ou contavam com resíduos acima do limite permitido por lei. Ainda, 60% das amostras tinham pelo menos algum tipo de resíduo de pesticida. A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (31), foi feita pela ONG Greenpeace. A organização coletou amostras de centros de distribuição de São Paulo e Distrito Federal em setembro. Os testes foram realizados pelo Laboratório de Resíduos de Pesticidas (LRP) do Instituto Biológico de São Paulo, ligado ao governo do Estado.
               O Greenpeace testou o arroz branco e integral, o feijão preto e carioca, o mamão formosa, o tomate, a couve, o pimentão verde, a laranja, a banana nanica, a banana prata e o café. Ao todo, a ONG testou 113 kg de alimentos. Parte dos alimentos foi escolhida por serem representativas na dieta do brasileiro, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e a outra parte por apresentarem altos índices de agrotóxico (como couve, pimentão e tomate). "A nossa amostra é pequena e o objetivo do estudo não foi o monitoramento, que deve ser feito pelo governo, mas de mostrar que estamos colocando agrotóxico todos os dias na mesa", diz Marina Lacôrte, especialista do Greenpeace em Agricultura e Alimentação. "Desafiamos qualquer centro a realizar o teste. Vai encontrar agrotóxico", comenta. Os resultados são consistentes com pesquisa feita pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com amostras coletadas entre 2014 e 2015; na ocasião, a agência mostrou que 58% dos alimentos tinham algum resíduo de agrotóxico.Também testes realizados pela Proteste em 2016 mostrou que mais de um terço dos alimentos tinha agrotóxicos ilegais. A entidade testou amostras de oito tipos alimentos.
 A dificuldade dos estudos
            "É bem complexo você chegar a uma representatividade estatística porque a quantidade de produtores é muito grande e há uma variedade de alimentos. Nem o FDA (órgão americano), nem a Anvisa conseguem”, diz Karen Friedrich, toxicologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), que fez o parecer técnico do estudo. "Então, trabalhamos com amostras, mas o que vemos é que os dados têm sido consistentes ao longo dos estudos", explica. A consistência nos estudos é importante porque muitas vezes se conta com a 'sorte', diz a toxicologista. "Quando você vai a um supermercado, por exemplo, o alimento vem de vários tipos de produtores porque a quantidade de gente para abastecer é grande", explica Karen. "Tem produtor que usa mais agrotóxico que outro. Então, às vezes, vai depender da sorte", comenta.
 Mais de um tipo de resíduo
              Um fator que preocupou a ONG foi a presença de mais de um tipo de agrotóxico. Segundo a entidade, a interação entre mais de um tipo de pesticida gera um "efeito coquetel" não totalmente mapeado por autoridades. A pesquisa encontrou que o pimentão, por exemplo, apresentou sete tipos de resíduos, incluindo agrotóxicos proibidos.Também três das quatro amostras de mamão apresentaram quatro tipos diferentes de resíduos. Uma das amostras apresentou um pesticida não permitido para o mamão, a famoxadona, e um outro resíduo em níveis nove vezes acima do permitido: o difenoconazol. "Estudos experimentais em animais mostram que a ingestão de misturas de agrotóxicos podem ser mais tóxicas. Estudos com populações expostas ambientalmente a vários agrotoxicos também mostram a possibilidade de interação", diz Karen Friedrich.
 Fiscalização e incentivos
             Para a toxicologista Karen Friedrich, seria importante haver um trabalho de rastreamento dos alimentos que mais apresentam problemas. "Isso significa pegar aquele alimento, identificar o produtor, fiscalizar e orientar sobre modos de produção sem agrotóxicos", diz. Ela comenta que esse trabalho já é feito em algumas regiões do país, como Santa Catarina e Paraná, mas não há uma ação em nível nacional. Uma outra questão é que a comercialização de agrotóxicos no país é isenta de impostos, diz ela. "Então, para o produtor é mais barato trabalhar com o agrotóxico", diz. Ainda, segundo a toxicologista, há poucos incentivos para a produção orgânica e o processo para a obtenção da certificação ainda é muito caro no país. Editor Paulo Gomes de Araújo Pereira.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Febre Amarela no Brasil

O RNA do vírus da febre amarela é geralmente detectado no sangue de seres humanos infectados. Detectamos o RNA viral em amostras de urina e sêmen de um paciente convalescente. Um genoma de vírus completo foi sequenciado para um isolado de uma amostra de urina. Este vírus tinha um genótipo sul-americano I e mudanças sinapomórficas únicas.
          O vírus da febre amarela (YFV) é um membro do gênero Flavivirus e causa febre amarela em seres humanos, caracterizada por febre, prostração e complicações hepáticas, renais e miocárdicas que levam à morte em 20% -50% dos casos. A confirmação clínica das infecções por YFV é baseada na detecção de ARN do vírus no sangue por PCR de transcrição reversa ou ELISAs baseadas em antígenos. A detecção de vírus em amostras de urina tem sido utilizada para confirmação de infecções com flavivírus, incluindo vírus do Nilo Ocidental, vírus da Zika vírus da dengue e YFV.
          Apesar da disponibilidade de uma vacina eficaz > 200.000 casos de febre amarela e > 30.000 mortes ocorrem por ano. Uma grande epidemia de febre amarela com altas taxas de mortalidade ocorreu recentemente no Brasil. Em dezembro de 2016, os primeiros casos de febre amarela durante esta epidemia foram relatados em Minas Gerais. Os casos foram posteriormente identificados no Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins e Distrito Federal. Foram encontrados 792 casos confirmados e 274 óbitos (taxa de casos de mortalidade 35%) em 10 de julho de 2017. Relatamos um caso de febre amarela em um homem de 65 anos que era nativo de São Paulo e não havia sido vacinado contra a febre amarela. O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de São Paulo. O paciente forneceu o consentimento informado para o uso das amostras durante o estudo.
          O paciente viajou para Januária, Minas Gerais, Brasil, em 28 de dezembro de 2016, e para uma área rural ao norte de São Paulo em 3 de janeiro de 2017. No dia 6 de janeiro, sofreu febre, arrepios, dor corporal e náuseas. Durante os dias 1-3 após o início dos sintomas, desenvolveram-se sintomas mais graves: febre persistente (temperatura 39,5°C-40°C), dor de cabeça, dor corporal, prostração, vômitos, tonturas, anorexia, fezes escuras, urina amarela escura e amargura na boca. O paciente foi internado em um hospital público em Januária em 9 de janeiro. Um ELISA para a proteína não estrutural 1 (NS1) do vírus da dengue mostrou um resultado negativo. O paciente também apresentou trombocitopenia grave (contagem de plaquetas 77,000 / mm 3 [intervalo de referência 140,000-450,000 / mm 3 ]). Em 13 de janeiro, o paciente voltou para São Paulo e foi internado em um hospital público. Outro ELISA para o vírus da dengue NS1 foi realizado e mostrou um resultado negativo. A contagem de plaquetas diminuiu para 57,000 / mm 3. Em 16 de janeiro, o paciente foi internado em um hospital de referência para doenças infecciosas em São Paulo. Ele mostrou uma apresentação clínica moderada: forma aniédica e hemorragia espontânea leve (equimose no olho direito). Alta febre, sintomas gastrointestinais (vômitos e diarréia), fraqueza, adinamia e mialgia generalizada também foram observados. O paciente teve uma perda de peso de 4 kg durante 8 dias. Foram obtidas amostras de soro e urina.
          Nossos resultados sugerem que o sêmen pode ser um material clínico útil para o diagnóstico de febre amarela e indicar a necessidade de testar amostras de urina e sêmen de pacientes com doença avançada. Esses testes podem melhorar o diagnóstico, reduzir os resultados falso-negativos e fortalecer a confiabilidade dos dados epidemiológicos durante os surtos futuros. Editor Paulo Gomes de Araújo Pereira.